Crise dos chips quebra circuitos e arrasta indústria automóvel em Portugal. Até quando se prolongam os efeitos?
SAPOTEK
DEZ 2021
Entre fábricas que produzem automóveis ou componentes, stands e concessionários, a indústria automóvel emprega mais de 200 mil pessoas em Portugal. Num ano que devia ser de recuperação, o cenário é pouco otimista, especialmente com a escassez de semicondutores. Previsões para 2022? Só muito vagas.
Em setembro deste ano, a AlixPartners atualizou previsões sobre o impacto da escassez de semicondutores na indústria automóvel, em 2021. Espera-se agora que a nível mundial a indústria perca este ano 210 mil milhões de dólares em receitas, por se ter visto obrigada a reduzir significativamente a produção. Principal razão: a falta dos chips que hoje equipam os mais diversos sistemas num carro.
O número resulta de uma segunda revisão em baixa das previsões da consultora, já em 2021, e mostra bem como, em janeiro, ainda era difícil prever os reais impactos de uma crise que afinal pode durar até 2023. Em janeiro, a mesma AlixPartners previa que o sector automóvel faturasse menos 60,6 mil milhões de dólares este ano. A previsão, atualizada em setembro, aponta agora para perdas três vezes superiores, a refletir que este ano ficarão por produzir 7,7 milhões de unidades, face às previsões iniciais dos fabricantes, e em consequência das muitas paragens que fábricas em todo o mundo - também em Portugal - se têm visto obrigadas a fazer.
Na Europa, os números do ano passado - relativos a vendas - mostram que as vendas de ligeiros caíram 23,7%. A Covid-19 e o confinamento generalizado foram os principais responsáveis por terem sido vendidos menos três milhões de carros na região. Em 2021, e até setembro, a recuperação prevista deu lugar a uma quebra que se aproxima já dos 25%, face a igual período de 2019, antes da pandemia. Os dados apurados pela ACEA - Associação Europeia de Fabricantes Automóveis para setembro foram mesmo os piores desde 1995.
VENDAS DE LIGEIROS EM PORTUGAL DEVEM FICAR AO NÍVEL DO ANO PASSADO
Em Portugal, e durante todo o ano passado, foram vendidos 145 mil automóveis ligeiros, número que representou uma queda de 35%. Este ano, a Associação Automóvel de Portugal (ACAP) espera que o número fique ainda abaixo do apurado para 2020.
Em relação à produção, os dados compilados pela ACAP até outubro mostram que o número de unidades produzidas em Portugal aumentou em quase todos os segmentos. O crescimento é de 8,1%, mas fica longe de compensar o trambolhão de 25,8% que os mesmos 10 meses de 2020 tinham representado.
A indústria automóvel não é a única afetada pela chamada crise dos chips. Os semicondutores hoje estão presentes em quase tudo o que usamos e nos rodeia, dos telemóveis aos eletrodomésticos, passando pelos dispositivos médicos, infraestruturas que suportam as redes elétricas, aos sistemas militares ou de segurança. Num mundo cada vez mais dominado por software e sistemas eletrónicos, é simplesmente impossível viver sem chips.
Em Portugal, o impacto desta escassez tem-se refletido na disponibilidade limitada de alguns produtos, como as consolas, mas tal como acontece no resto do mundo é sobre o sector automóvel que recaem as maiores preocupações.
Ao longo do ano foram anunciadas paragens em algumas fábricas e sabe-se que ao redor de cada uma destas unidades, há dezenas ou centenas de outras empresas, que quando a produção das fábricas abranda não conseguem escoar o que produzem. Note-se, por exemplo, o caso da indústria nacional de componentes para o sector automóvel.
98% DOS MODELOS DE AUTOMÓVEIS PRODUZIDOS NA EUROPA USAM COMPONENTES MADE IN PORTUGAL E MAIS DE QUATRO QUINTOS DA FATURAÇÃO DAS 375 FÁBRICAS EXISTENTES EM PORTUGAL RESULTA DE EXPORTAÇÕES.
Com a produção de carros a parar em toda a região, os efeitos são incontornáveis, independentemente das empresas se dedicarem a atividades na área da eletrónica ou elétrica (32%), têxteis e outros revestimentos, metalurgia, produção de plásticos e borrachas ou montagem de sistemas.
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